Imagem: twitter.com/joaoamoedonovo/

Vamos direto ao ponto: João Amoedo foi bem no programa. O programa é que foi mal. Como ficou claro, PARA QUEM VIU, houve uma confusão de perguntas, algumas prolixas e com entrevistadores se atropelando nas palavras. Dentro deste quadro fiquei impressionado com o foco que teve o candidato. Às vezes tive a impressão de que a sobrecarga de perguntas o favoreceria, deixando as mais espinhosas para trás e não, lá estava o engenheiro com seu foco característico retomando as questões a ele proferidas antes de passar a outra questão. Então eu acho totalmente descabida a acusação de que os entrevistadores arrasaram com ele. Agora, quem esperava um político com cara de manifestante ou revolucionário berrando em cima do palanque, João Amoedo não é (e nunca foi) “o cara”. Eu acredito que é necessário imprimir paixão no discurso porque a conexão que se faz com massas não é de todo racional. Aliás, me corrijo: a conexão que se faz com as pessoas de modo geral não é de todo racional.Que o digam os marqueteiros e psicólogos que sabem muito bem disto… Mas analisando por outro lado, tudo que tivemos no Brasil foram discursos irracionais, sem base técnica, sem análise de dados, sem proposição de programas exequíveis e explicação de como e quão exequíveis são. E agora que temos um candidato que foge por completo ao estereótipo do populismo, a crítica é porque ele é insosso, que disputa o título de “picolé de chuchu” com Geraldo Alckmin etc. Está mais do que na hora de termos racionalidade e conteúdo nas propostas.
Outra crítica que circulou nas redes foi um “fogo amigo”, daqueles liberais, libertáriosque acreditam no liberalismo econômico, mas também na esfera da vida privada ou como chamam, nos costumes. A questão, não poderia deixar de ser, foi em relação às drogas. Amoedo disse que não proporia a descriminalização das drogas nesse momento, mas em um momento futuro. Porque acha, o que é uma demonstração de bom senso que as experiências ora em curso deveriam ser analisadas, pois assim como há casos em que se relatam bons resultados – como em Portugal – também há os negativos – como na Holanda.
Leiam: essa é minha opinião e não algo expresso ou dito por algum membro do Novo: eu apoio a liberação/descriminalização das drogas, mas não sem sua devida regulamentação, como (a) quais drogas especificamente? (b) a partir de que idade seria permitido consumi-las? (c) em que local e em que situações (direção no trânsito, p.ex.) não seria permitido seu uso?
E uma outra muito importante: é justo pagarmos tratamento para dependentes químicos? Então, meus caros, eu defendo sim a liberação/descriminalização se e somente se houver regulamentação conjunta (e não a posteriori) com a devida extinção do atual modelo de saúde pública porque não devemos ser obrigados a subsidiar tratamento do vício alheio. O que, aliás, já deveria valer uma vez que há internações de alcoólatras e fumantes de cigarro.
Acho que João Amoedo conseguiu desagradar aos cotistas e aos anti-cotistas na questão específica, o que me trouxe simpatia. Não pelas cotas raciais em si, que eu sou obviamente contra, mas por sua abolição gradual que revela pragmatismo na política. Quando se altera mecanismos já institucionalizados tem que se, em contrapartida propor outros e foi exatamente o que disse o candidato. Com uma luva de pelica ele deu um tapa na bazófia da “jornalista e professora universitária” Rosane que só por citar Milton Santos (se baseando nele) já vi que era uma farsante. Em suma, ele não caiu no jogo dela.
Outras questões, óbvias para conservadores e liberais foram apropriada e acertadamente tratadas, como o custo da máquina pública, o engessamento da atividade produtiva, a necessidade de privatizações, da redução da carga de tributos, da segurança pública e do direito à defesa (que envolve o fim do Estatuto do Desarmamento), dos privilégios políticos (como o Foro Privilegiado), da falta de competição na expansão do crédito (que leva aos juros elevados) etc. Eu gostaria de ver que outro candidato (do nosso lado) teria a capacidade de tratar de tantos temas com desenvoltura como ele e sem cair em clichês como “bandido bom é bandido morto” ou que caísse em armadilhas como as questões sobre alteridade sexual. João foi preciso, embora frio e técnico como dita sua personalidade. E agora, na nossa atual conjuntura é disso que precisamos.
Uma nota sobre os bons entrevistadores: o sujeito d’O Estado de São Paulo (que falou pouco) e o da Revista Exame. O resto foi sofrível sendo o pior deles, o condutor do programa, que deixou rolar a bagunça e não teve pulso para orientar a entrevista que mais parecia um debate desrespeitoso. Aliás, a balbúrdia que surgiu em determinados momentos PROVOU que perante o RACIOCÍNIO LÓGICO, os clichês de esquerda se desmontam por si só.
Agora imaginem quem faria melhor? Que eu me lembre, no atual cenário, ninguém, nenhum homem, nenhuma mulher… E nenhum mito.

Anselmo Heidrich
24/05/2018