segunda-feira, junho 01, 2015

O óbvio sobre economia e educação



Excelente entrevista que ensina o básico. Se pensássemos a educação como este sujeito pensa a economia em geral não estaríamos tão mal como estamos. Como se quer melhorar o sistema de ensino e a educação sem um objetivo, meta? Como podemos almejar melhorar alguma coisa se não há avaliação (externa), uma auditoria da categoria profissional que se diz responsável, primordial pelo processo educacional, os professores? Assim como a abertura comercial só faria melhorar a economia como um todo deixando a proteção estagnadora para trás é a mesma coisa no que se refere à estabilidade do servidor público, para os professores da rede pública em especial. Não há como fazê-los se mexer se a garantia de permanecer no emprego não passa por um processo que leve em conta o desempenho, nem estes critérios estejam claros para profissionais e clientes, sejam eles alunos ou responsáveis por estes. A propósito chega a ser risível que professores reclamem de alunos e seu desinteresse na medida que eles próprios não dão mostras, o chamado bom exemplo, para que os alunos se espelhem e façam similarmente. Faltando do jeito que faltam e perdendo tempo com bobagens como 'dinâmicas', projetos, chamadas em sala de aula e outras bobagens que só servem para se perder tempo e não trabalhar, o aluno nunca entenderá que as aulas deveriam ser para prestar atenção, copiar, escrever e responder/debater do início ao fim. Algo óbvio...

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/entrevistas/20150525/brasil-precisa-urgentemente-abrir-mais-economia/263107.shtml

“O Brasil precisa urgentemente abrir mais a economia”

Claudio Haddad, presidente do Conselho de Administração do Insper

Há pouco mais de um mês, o engenheiro carioca Claudio Haddad deixou a presidência do Insper, o instituto privado de ensino e pesquisa com sede em São Paulo, fundado por ele em 1999, originalmente com o nome de Ibmec. Durante 16 anos, ele acumulou a função executiva com a cadeira principal do Conselho de Administração. Agora, ele fica só com a função de orientação estratégica e o economista Marcos Lisboa, que foi vice-presidente do Itaú Unibanco, com a execução do negócio. Haddad é um apaixonado por educação. Sócio do Banco Garantia entre 1983 e 1998, ele, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira entendiam que o ensino era a única maneira de melhorar os principais índices da economia brasileira. Foi assim que o Insper foi criado, seguindo o exemplo das melhores universidades americanas, que têm como base o financiamento privado com a colaboração de empresas e ex-alunos. Nesse período à frente da instituição de ensino, Haddad tem mostrado preocupação com o nível de educação no País. “Ainda estamos no meio de uma tragédia nacional”, diz ele. O futuro da economia segue o mesmo tom de apreensão. “O conteúdo nacional não tem o menor cabimento num mundo onde as grandes cadeias estão integradas.” Nesta entrevista, Haddad indica as saídas para o Brasil voltar ao jogo global dos negócios.
DINHEIRO – O sr. sente que a confiança no Brasil está de volta?
CLAUDIO HADDAD –
 De uma certa maneira, sim. Não estou subestimando o esforço de ajustamento que deve ser feito, mas a parte macroeconômica é a menos importante. No final das contas, se acerta. O Banco Central voltou a ter metas, o câmbio está mais flexível e o esforço fiscal vai acabar sendo feito, claro que a duras penas. O Brasil não vai perder o grau de investimento. Mas não acho essa parte a mais complicada, porque todos conhecem a receita. O problema fundamental é a parte micro. São todas as reformas que precisam ser feitas para melhorar a produtividade, a taxa de investimento e aumentar a poupança, para que o País possa voltar a crescer a taxas mais elevadas. Essa é a grande agenda.
DINHEIRO – Mas o ajuste é fundamental, não?
HADDAD –
 Claro, sem o ajuste macro, com inflação alta e problemas aqui e ali, não se vai resolver a outra parte. Mas quem acreditava que só a macro resolvia, com a visão keynesiana de aumentar o gasto público, assistiu ao desastre dessa política praticada nos últimos cinco anos. É preciso uma agenda de reformas, com foco, que vai passar por educação, produtividade e priorizar uma política de Estado e não de um governo, que desfaz tudo o que acha que o anterior fez de errado, para começar do zero. Esse tem sido o nosso drama. Damos quatro passos à frente, e dois para trás. Tem de acabar com esse joguinho de criança e ter continuidade, foco e responsabilização. É o que as empresas privadas bem-sucedidas fazem, não há nenhuma mágica.
DINHEIRO – Qual é a importância de promover uma abertura da economia?
HADDAD – 
Absolutamente fundamental. O Brasil ainda é uma economia extremamente fechada ao exterior. Acredito firmemente em copiar coisas que dão certo adaptando para a realidade brasileira. Esse negócio de reinventar a roda e ser auto-suficiente não tem o menor sentido. Para isso é preciso troca de ideias. Por exemplo, ainda é complicado contratarmos professor estrangeiro. Estamos montando um programa de doutorado totalmente em inglês. Para o aluno do exterior ter seu diploma de doutorado reconhecido no Brasil é preciso que ele tenha primeiro o diploma de graduação reconhecido. Quando fui fazer meu doutorado em Chicago, nos Estados Unidos, ninguém se preocupou com o meu diploma de graduação no Brasil. Então, existe uma série de barreiras burocráticas totalmente sem sentido que tornam a internacionalização muito complicada para o Brasil, que precisa urgentemente abrir mais sua economia.
DINHEIRO – É possível o Brasil desenvolver gênios como os que criaram o Facebook e o Google?
HADDAD –
 Acreditamos nisso e nossa missão é essa. O curso de engenharia que montamos é para criar esse ecossistema em São Paulo, entre empreendedores, criadores, financiadores e academia. O brasileiro é muito criativo. Então, se tivéssemos um ambiente de negócio mais atrativo teríamos visto mais empresas sendo formadas. Mas o Brasil se agarrou ao passado na política industrial, seja aos grandes projetos ou à restrição de importações. O mundo mudou e se um país não estiver integrado nas grandes cadeias produtivas, está fora do jogo. Querer a auto-suficiência ou pensar no conteúdo nacional não tem o menor cabimento. Tem de fazer com que as empresas comprem equipamentos mais baratos, porque se não tiver nível de competição internacional estão perdidas. Tem de desenvolver cérebro, capacidade de pensamento e criação. O processo de fabricação está cada vez mais automatizado.
DINHEIRO – O que impede o aumento de produtividade, no Brasil?
HADDAD – 
Houve uma época em que a produtividade aumentou bastante, no Brasil, mas depois estagnou e parou. Existem empresas altamente produtivas, mas a média não é. Produtividade envolve comprometimento e foco, bem como decidir se o País quer realmente crescer a taxas mais elevadas. Por que uma coisa é dizer da boca para fora que queremos crescer e outra é fazer as escolhas certas, entre os investimentos e as políticas de Estado. Há um problema com os incentivos corretos. Até certo ponto políticas boas de distribuição ajudam o crescimento, como a educação. Mas, simplesmente, distribuir dinheiro sem incentivo para que a pessoa melhore ou que fique mais produtiva no trabalho é tirar dinheiro do setor que produz. É praticamente jogar dinheiro fora. Há, no Brasil, uma quantidade enorme de recursos que são jogados fora em projetos mal estruturados, como aconteceu com a Petrobras. São projetos que não são medidos e cujo impacto deles é desconhecido.
DINHEIRO – O sr. enquadra o BNDES nessa análise?
HADDAD –
 Quantos bilhões de reais o BNDES gastou e o que isso resultou em aumento de investimento e produtividade no Brasil? Essa pergunta não é feita. Gastaram-se dezenas de bilhões de reais, mas qual é o resultado? Hoje, ele é o maior banco de desenvolvimento do mundo. No entanto, nos indicadores o Brasil vai mal. O ambiente de negócios é o 120º do ranking, segundo o Banco Mundial, a produtividade está estagnada, assim como a educação. A renda per capta no Brasil cresceu menos de 1,5% ao ano, desde 1990. É pouquíssimo. Nossa renda per capita é de US$ 13 mil. Na Europa Continental, a renda mais baixa, de Portugal, está próxima de US$ 30 mil. Há interesse em fechar essa diferença? Pelo que se faz, parece que não. Se a renda per capita dobra em 50 anos, vamos continuar abaixo do que Portugal é hoje. Então, é triste ver que o Brasil estava no mesmo nível da Coréia do Sul, que deslanchou, enquanto ficamos para trás.
DINHEIRO – O problema foi não priorizar a educação?
HADDAD –
 Se o Brasil tivesse se esforçado com a educação há 30 anos, teríamos tido resultados agora. Porque educação é um processo muito lento, que exige continuidade. Foi o que os países asiáticos fizeram. A Coréia do Sul teve continuidade e seus índices, que eram iguais aos do Brasil, no início dos anos 1960, estão muito melhores. Não só a educação melhorou, mas atualmente a renda per capita da Coréia é quase quatro vezes maior do que a do Brasil.
DINHEIRO – O governo não gosta de comparar o Brasil com nenhum outro país.
HADDAD –
 Esses exemplos nunca são considerados pelos formuladores brasileiros. Sempre se procura desqualificá-los. O Chile é pequeno, do tamanho do Rio Grande do Sul. Portugal é pequeno. Mas a China é grande, como nós, e veja o progresso que eles fizeram nos últimos anos. Por acaso, a desculpa é que lá é outro regime? Sempre tem alguma coisa diferente. Em vez de correr atrás e efetivamente colocar foco.
DINHEIRO – O Fies foi uma boa política de governo?
HADDAD – 
A intenção de financiar a educação é boa. Mas não da maneira como o programa foi feito, sem a devida precaução em termos de volume de recursos que seriam alocados no sistema de incentivos envolvidos. Chegamos numa situação em que virou uma bola de neve e o governo teve de intervir, porque, de fato, estava começando a comprometer o orçamento público. Acho que deve ser mantido, porém reformulado para garantir que as pessoas com talento possam estudar, com uma taxa subsidiada. Mas que não seja tão subsidiada como era a taxa do Fies, que era praticamente de graça, de 3,5% ao ano. O Banco Central paga mais de 13% de juros pelos títulos públicos, uma diferença gigantesca. O governo está procurando fazer isso, e precisa haver diálogo com as entidades privadas para que se chegue a uma solução.
DINHEIRO – Como o sr. avalia a troca de ministros na pasta da Educação?
HADDAD –
 O Cid Gomes teve uma experiência muito bem-sucedida em Sobral. Ele realmente participou, idealizou e os indicadores da educação no município cearense melhoraram bastante. Ele assumiu o MEC com um discurso que parecia bastante animador. Houve o incidente na Câmara dos Deputados (o ex-ministro bateu boca com a bancada do governo) e ele saiu. Não conheço o novo ministro Renato Janine. Ele parece ser uma pessoa bastante respeitada, um pensador. Vamos ver a capacidade de gestão dele, que é fundamental. Pelo que ele tem dito, as ideias são corretas, parece com vontade de acertar. Está tudo muito positivo, mas o problema é fazer acontecer.
DINHEIRO – Por que é tão difícil gerir uma universidade pública como a USP?
HADDAD – 
A gestão de uma entidade acadêmica grande tem os seus desafios, e a de uma entidade pública tem as suas restrições, como concurso, estabilidade, rigidez orçamentária, regras diversas, que a tornam um pouco mais complicada. Além disso, tem a governança com o sistema de reitores eleitos por corpo docente, discente e funcionários. Se chegar em Harvard e disser que o presidente vai ser eleito dessa maneira, eles vão achar que é loucura. Lá é um sistema de Conselho, como numa empresa privada, que busca os melhores a serem escolhidos. Aqui, não. Precisa ser da própria universidade, então já existe um viés de seleção, e tem de ser alguém popular para esses três fóruns. Esse é um fator que perturba porque não tem necessariamente a ver com a qualidade acadêmica. O modelo é muito parecido com a Europa Continental, onde existem poucas universidades consideradas de excelência no mundo. Hoje, as universidades de ponta são inglesas ou americanas. Mas é realmente complicado quando 105% do orçamento está comprometido com despesas correntes. No Insper, queremos ter superávit operacional. Não somos governo e não acreditamos em déficit.

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