terça-feira, fevereiro 13, 2018

O Rio de Janeiro e o Brasil


Sempre enojei a ideia de que o Rio de Janeiro representasse bem o Brasil, não por ser o Rio, que tem lá suas belezas, assim como qualquer parte deste país gigante, mas pela ideia de caracterizar, resumir, dar uma ideia que seja de algo tão diversificado que é o Brasil. Mas confesso que depois dos últimos acontecimentos neste estado tenho que rever minha opinião.
O domínio crescente do tráfico na cidade, ao ponto de enclausurá-la numa concha partida e aberta, um anfiteatro que convida ao domínio que é o seu sítio morfológico quase me convence de que geografia é destino. Mas não é, é possibilidade… A maioria das cidades do mundo, notadamente as que apresentam significativa desigualdade socioeconômica, a elite sobe o morro e a plebe desce. No Rio é o contrário, exatamente o contrário. E não se deixem enganar, isto diz muito sobre o ecossistema carioca. Ao invés de divisão e cisão, nós temos lá uma simbiose.
Recentemente estenderam uma faixa ameaçando o STF, caso Lula fosse preso de que “o morro ia descer”. Essa eu pagaria para ver. Não só não desce, como fica mais escondidinho dando suas caras espasmodicamente, como todo bom estudante de guerrilha sabe que tem que ser feito. Um confronto direto obrigaria a uma luta que o tráfico não tem condições de peitar, caso as Forças Armadas sejam acionadas. E a polícia vai ter que mostrar suas diferentes bandas para depois rachar, se é que me entendem.
Quando uma escola de samba dança ao som de batuques e letras acusando um governo não é preciso ser nenhum psicólogo ou investigador amador para saber que aquele que não foi citado é o real problema. Perguntam nos bons policiais “onde estava o cavalo branco na cena do crime?” Qual cavalo? Aquela prova que tu não viu porque não imaginou que tivesse relação. A questão é qual “cavalo” a Tuiuti esconde? Ou melhor dito, qual “sapo barbudo” ela finge que não coaxa em seus ouvidos sujos pelo ruído de caixas registradoras. Ah! Esqueci! Como sou ingênuo de achar que isto é computado, ainda mais em tempos que o Caixa 2 não pode mais ser considerado crime, que consumir psicotrópicos também não, exceto se for uma determinada quantidade que exceda o que for, subjetivamente, considerado suficiente para sua satisfação garantida. A plateia sorridente nos camarotes que o diga, afinal pagou caro pelo espetáculo de ilusionismo e frenesi que os transformaram e figurantes com embalagem de bombom de algum episódio de Walking Dead.
Assim garantiria Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista se fizesse um enredo de escola de samba. Acusemos os sucessores cortando com um machado da retórica e lírica pobre envoltas por uma batucada dionisiacamente anestésica que houve um antes, uma causalidade, algo que começou tudo isso e que a responsabilidade individual pela recessão, desemprego e inflação mencionadas na passarela começaram com os mesmos dedos que elegeram Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer. Triste filme de terror em que lembram do Vampiro do Planalto, mas esquecem da Noiva Frankenstein com doutorado feito da mesma forma que o experimento que lhe deu origem. Amor demais… “Sou Milton, seu monstrinho querido…”
Gostaria de ver aquela porcaria que mantém a economia subterrânea da “cidade maravilhosa” legalizada para que trôpegos eleitores de Freixos seguissem livres na sua busca interior até que a luz os atingisse em uma overdose de auto-revelação, mas em um quarto fechado. O problema não é sua busca química por êxtase, mas sim algum externalidade ingrata, seja no volante de um veículo, seja com uma arma ilegal em mãos, já que as legalmente adquiridas têm o porte proibido para a maioria dos que sustentam a farra de políticos, estudantes e carnavalescos.
Como eu já disse, eu sempre fui contra a ideia simplista de resumir o Brasil, assim como eu também sempre fui contra a secessão de outros estados e regiões do Brasil, mas sinceramente, eu começo a me cansar.

Anselmo Heidrich


Nenhum comentário:

Postar um comentário