sexta-feira, novembro 16, 2018

E nem pode ganhar dinheiro - esporte e artes

Na visão do Enem, esses jogadores da Seleção Francesa de Futebol seriam meros mercenários estrangeiros, já que se “venderam” ao Capitalismo.
O que não é um produto e o que não pode se tornar uma mercadoria? A vida humana? Ei! Eu não perguntei sobre O QUE NÃO DEVERIA, mas o que não PODE! A princípio, tudo pode, mas muito não deve ser mercantilizado por questões morais que cabe a nós, humanos obviamente, endossarmos ou não.
As artes são expressões de comunicação que também podem ser mercantilizadas e há aqueles que acham que isto, por si só já as coloca em um nível de qualidade inferior à “arte pura”, o que já adianto aqui que acho uma IMENSA BOBAGEM, mas este assunto fica para outro momento…
Assim como o fato de uma expressão artística qualquer não ser veiculada com o objetivo de vender não a torna superior, não é porque a atividade profissional do atleta não se torna superior só porque este atleta não obtém sucesso comercial. Para mim é evidente que quem acha que o “verdadeiro esporte” está longe das caixas registradoras parte de uma visão tola do mundo, fruto de uma ideologia insustentável de que o que vende, corrompe. É como se os Ronaldinhos, Romário, Messi e tantos outros fossem menos jogadores que são porque ganham rios de dinheiro.
Agora se você discorda porque gosta de ver o valor de cada esportista em ligação com seu clube ou símbolo disto tudo, então te pergunto como você reagiria a uma proposta milionária para jogar em um time rival? A torcida, a paixão etc. fazem parte de nossa vida, de nossa fantasia. Eu adoro filmes de ficção científica ou fantasia, mitologia, mesmo sabendo que aquilo não é verdadeiro (embora no caso da FC, muito se torne realidade), mas o que me importa são as lições e enredo. Analogamente, eu respeito o sentimento de um torcedor que o conecta a um grupo imaginário por causa de um sentimento primitivo. Todo sentimento, aliás, é primitivo.
Agora, não me venha falar que isto é “verdadeiro” e quem deseja ganhar dinheiro com o que gosta é falso. Claro que há arte feita por quem produz já pensando em auferir mais dinheiro, da mesma forma que nos esportes, mas achar que o indivíduo perde qualidade por conta disto é tolo. E ESPERE AÍ… Eu não gosto de muita coisa do mundo pop, mas nem por isso digo que “não têm qualidade”. Contrariamente, tem muita coisa que eu adoro (em se tratando de música, especialmente) que é puro “feijão com arroz” e algumas de baixa qualidade técnica, mas que continuo adorando.
Antes de tentar definir o que é “bom” ou “ruim” tem que se estabelecer uma definição do que isto tem a ver com a qualidade e esta, antes de tudo ser também definida. MAS daí perceberam que o assunto fica chato? Que o encantamento desaparece? E é exatamente por isso que o bom jogador, que o espetáculo não deve ser avaliado por quanto dinheiro envolveu, qual foi seu custo. Ao fazer este tipo de análise estaríamos enveredando por qualquer caminho, menos os das sensações e significado que os indivíduos estabelecem com aquela forma de expressão artística ou esportiva.
No caso do esporte, a competição cada vez mais acirrada entre as equipes FORÇOU ao longo dos anos a CRIAÇÃO de novas técnicas, performances, estilos, estratégias etc. Só mesmo um escritor raso que vê a influência maléfica do comércio e do capital em tudo — não por caso, autor do clássico de esquerda As Veias Abertas da América Latina -, Eduardo Galeano para ser utilizado como referência para uma questão do Enem, cuja resposta correta é uma condenação do comércio do esporte (veja nas figuras abaixo).


Sim, não poderia deixar de ser, mais lixo ideológico no #Enem, agora atacando a dimensão da diversão humana e, implicitamente, condenando a percepção e sensação de quem discorda.
Anselmo Heidrich
16 nov. 18

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