sábado, setembro 10, 2011

O 11 de Setembro e a Nova Ordem Mundial


Like doctrinaire Marxists or certain religious extremists, conspiracists enjoy a worldview that is immune to refutation.
n      James B. Meigs


Quem já não ouviu algo assim sobre os atentados de 11 de Setembro?

As torres gêmeas não caíram com o choque dos aviões, elas foram implodidas.
O Pentágono não foi atingido por um avião, mas um míssil.
Como terroristas refugiados numa caverna poderiam traçar um plano bem sucedido como este para atacar os EUA em seu próprio território?
Isto é obra de uma grande conspiração mundial para justificar a guerra contra as nações e pilhar seus recursos naturais.

Nesta linha de argumentação, a obra mais bem acabada é o “documentário” Zeitgeist dividido em três partes, as duas últimas dedicadas a definir sua tese, de que todas grandes guerras e operações militares foram e são guiadas por interesses de grandes grupos mundiais dedicados a enganar a população mundial. No caso, o 11 de Setembro não é nada além de mais uma peça neste sentido.

Quanto aos detalhes técnicos dos atentados, alegados pelos teóricos imaginativos, este artigo da Popularmechanics.com os responde. Ocupo-me agora com as premissas que estão por trás das hipóteses e conclusões forçadas sobre o episódio. Há uma tendência em separar a fonte desse tipo de análise por sua preferência política, os “malucos de direita” ou os de “esquerda”, mas quando se trata de uma paranóia coletiva como essa, são todos só malucos, nada além de um bando de malucos. Portanto, primeiro cuidado que temos que ter é simplesmente esquecer, quando se trata de buscarmos os fatos, se quem fala isso ou aquilo é “de direita” ou “de esquerda”. Para a verdade, pura e simples, isto não importa.
O que está por trás desta suposta conspiração mundial? Uma imaginária “nova ordem mundial” em que o mundo se vê controlado por instituições financeiras internacionais, isto é, os grandes banqueiros. Em outras palavras, trata-se de um brado contra os ricos? Claro que dirão que não se trata do capitalismo, mas de uma fábula conhecida como “metacapitalismo”, em que elites dirigentes imporiam um crescimento do poder transnacional sobre a liberdade dos povos. Atente que esta premissa “liberdade dos povos” nem sempre coaduna com a liberdade de fato, que é individual e não, coletiva. 
O maior desenvolvimento da economia de mercado também depende do aumento da oferta de crédito. E o crédito se forma quando se tem confiança, quando os pilares institucionais de uma sociedade são bem desenvolvidos. Quando o custo deste crédito se torna muito alto, tal como no Brasil, a causa não se encontra no próprio sistema financeiro e sim onde se demanda pela oferta do recurso, o que em nosso caso é o próprio setor público. Por isso me pergunto quem subjuga quem? Aquele que financia uma dívida ou quem a cria postergando seu pagamento e, ainda por cima, aumentando essa mesma dívida em nome de todos nós?
Portanto, acusar uma imaginária “nova ordem mundial” se opondo ao estado-nação, como se este fosse uma mera vítima é um sofisma. Além do mais, quem disse que o estado, ainda mais o conceito de “estado-nação” é, necessariamente, um baluarte da liberdade? O estado ao longo da história é que, tradicionalmente, tem nos oferecido bloqueios, embargos, tarifas alfandegárias, controle imigratório etc. Então, como esperar de um ente coletivo como este o meio precípuo da liberdade?
Outra característica destas teorias é a ameaça iminente de alguma coisa. Sempre há uma eliminação em vista para os teóricos conspiratórios. A da redução da população mundial feita por uma elite empenhada em nos controlar com métodos neomalthusianos também já não cola mais, uma vez que mesmo em desaceleração, o crescimento demográfico é um fato. Precisamos contestar tamanha sandice com dados quando se sabe que as mega-cidades (com mais de 10 milhões de habitantes) aumentam de modo inaudito? Quando a população urbana mundial já se tornou superior a rural? Quando a humanidade se acerca da casa dos 7 bilhões e que, portanto, não há nenhum indício de futuras perdas demográficas na casa dos bilhões? Haja paciência! Só alguém completamente alienado de qualquer responsabilidade factual para dizer que este amontoado de ilusões tem alguma validade.
A adoção de outros argumentos que são simplesmente agregados para se chegar a mesma conclusão (de que estamos sendo enganados) é um flagrante sinal de picaretagem só equivalente a uma etnia extinta que “previu” o fim do mundo para daqui um ano; que diz que crises se sucederão dando lugar “a uma apatia em escala massiva”, o que é completamente contra-sensual quando se pensa em convulsões sociais que se sucederiam etc. Um momento: se tudo está ficando pior, então tivemos em algum ponto do passado uma “época de ouro”... Qual teria sido? Enquanto que o mundo melhora a olhos vistos, a ilusão de que tudo está piorando se faz conveniente para justificar a paranoia de quem pretende prever seu fim.
E não basta retratar a decadência mundial, tem que se criar uma origem malévola, daí a costumeira vinculação dos conspiradores a alguma seita religiosa ou ao satanismo. Se a sucessão de problemas do nosso infortúnio for fruto do acaso ou de uma infeliz coincidência não se pode salvar a consciência humana nos transformando em pobres vítimas. Como parece difícil suportar os erros individuais como uma constante na humanidade, o melhor é conceber a idéia de um mal abstrato a nos sondar esperando pelo bote.
Esta ilusão de controle deriva de uma incapacidade de encarar o caos mundial em que alguns governos tentam, muitas vezes em vão, por um naco de ordem aquém de suas fronteiras. Também é resultado de uma profunda incompreensão dos mecanismos de mercado mundiais e como estes ultrapassam fronteiras trazendo benefícios a um crescente número de pessoas em meio à turbulência de crises que vêm como ônus. A incongruência também é marca dessa gente. Ao mesmo tempo em que um paranóide critica o “governo global”, também clama pela atuação de uma Convenção de Genebra para assegurar os direitos reconhecidos internacionalmente em defesa de um dos seus. Não seria surpresa pensarmos que se tivessem como, moldariam uma sociedade bipolar, com regras exclusivas em defesa própria já que as criticam para outros, se estes forem seus opositores. Ou seja, não difeririam em quase nada do atual estado jurídico marcado pela desigualdade e falta de isonomia de direitos e deveres que é chaga em países subdesenvolvidos. Seu brado contra a ordem global é conivente com a anarquia e sombra de territórios fragmentados pelo obscurantismo e medo. Criticar uma ascensão de racionalidade global só pode ter como contrapartida a anarquia e caos típicos de um Chifre da África.
Agora analisem seus pares. Muitos partidos ditos de direita por aí, em oposição ao totalitarismo das esquerdas, alguns em formação ainda não oficializados partem dessas premissas ilusórias. E, sinto muito, se a base em que suas crenças não se pautar em conhecimento discutido e contestável, tal como na ciência, o que vocês, caros leitores farão, será apenas embarcar em mais uma canoa furada para serem alvo de chacota mais adiante. Que é isso? Nova Ordem Mundial, metacapitalismo, “controle de mentes”... Que tal parar com a cachaça?
...

3 comentários:

  1. A idéia de "criar o crédito" deveria ser melhor entendida pelo autor do texto - o CONCEITO de crédito, melhor dizendo. Tal conceito se presta a ser - na verdade É - a base e o fundamento de um sistema não apenas desvinculado da realidade, como também intensamente manipulável. Foi meramente através da criação deste conceito e de sua aplicação como fundamento que a Banca - na qual o autor "não acredita" manipula todas as economias e todas as pessoas - ou seja, age coletiva e individualmente... E GANHA, com isso, riqueza REAL, CONCRETA. A Banca ACUMULA riqueza REAL vendendo CARO "riqueza virtual", a.k.a. "crédito" - a compradores que vão de economias a indivíduos. Sugiro que o autor se debruce sobre o assunto para entender as coisas COMO SÃO.

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  2. PS: Errr... quer dizer então que você acha que "o mundo MELHORA a olhos vistos"?
    Eu acho que quem deveria "parar com a cachaça" é VOCÊ. Pelo andar da carruagem, daqui a pouco vai dizer que "as pessoas sabem cada vez mais"...

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  3. Está brincando comigo, certo? Teu "conceito" de crédito não passa de um amontoado de clichês esquerdistas infanto-juvenis de moleques de ensino médio que se empolgaram com um professor meia-tigela doutrinador.

    Cresça. E depois de escrever algo que preste naquele teu blog ridículo venha discutir comigo.

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