segunda-feira, dezembro 17, 2012

Ensaio sobre a verdadeira cegueira


Em Sim, a escola varre as milhões de vítimas do socialismo para debaixo do tapete, Luis Lopez Diniz Filho se digladia com um estudante de História que pretendeu lhe dar uma lição, mas inadvertidamente tentou fazê-lo sem se apoiar nos fatos... Históricos! Aqui abaixo eu repito meu comentário ao seu post, que acho que vale a pena divulgar:



Diniz,

Eu entendo este rapaz que lhe respondeu... Uma ou duas décadas atrás, a maioria dos que defendiam o marxismo se colocavam na obrigação de ler Karl Marx, mas com o passar do tempo, se repete comentadores, cujos artigos foram passados na faculdade e, na melhor das hipóteses, um ou outro capítulo da obra do próprio Marx ou de seus seguidores mais próximos. Esta vulgarização esquerdista tem a ver com a própria queda da qualidade de ensino em geral. Não que eu concorde com o marxismo, em absoluto! Aliás, me vejo mais como um antimarxista do que um anti-socialista, para dizer a verdade, mas como eu dizia lá pelos meus 15 anos (e já faz muito tempo isso), quando eu me apresentava ideologicamente como “anarquista”, a primeira coisa que fiz antes disso foi ler um livro sobre o assunto que, no caso, foi a obra de George Woodcock, Os Grandes Escritos Anarquistas. Daí, um pouco informado, eu sabia ou tinha alguma noção do que pretendia defender. O que ocorre hoje em dia? Temos “marxistas” que, quando muito, leram O Manifesto Comunista e deu! O resto fica para a pós-graduação... Mas, vamos aos argumentos do aluno... (Uma vez que ele fala nos professores que tem.) Em mais de 20 anos de sala de aula, não tive contato suficiente com livros didáticos de História, mas sim com os de Geografia, bem como apostilas de sistemas de ensino que, em alguns casos, nada mais são do que os mesmos livros de editoras reconhecidas no mercado e editadas por seus autores em cursos pré-vestibulares no caso dos “terceirões”. Bem, exceto por alguns que realmente comentam a “crise do socialismo real” devido ao “excesso de burocratização” ou “desvirtuamento da revolução” que nunca passou de “capitalismo de estado”, normalmente a responsabilidade recai sobre os ombros dos agentes capitalistas e sua sanha armamentista que pressionou o socialismo, pois segundo estes autores “não interessava” ter um caso bem sucedido servindo de exemplo aos trabalhadores do 1º Mundo, ou outra estultice destas.

100, 200, 300 milhões? Digamos que sejam “apenas” 100... Isto diminuiria a indignação de nosso colega? Suspeito que não. Pois, como não “denunciamos” as mortes pelo capitalismo, não somos “neutros”. Isto quando também dizem, para justificar a deliberada parcialidade de suas análises, na “cada dura” mesmo, que “neutralidade não existe”. Mas, quando convém, aí a conversa é outra. Guerras feitas por países capitalistas, provavelmente, existiram em maior número do que as feitas por países socialistas por uma simples razão: existiram mais países capitalistas que socialistas. Agora, o que tem que se perguntar caro aluno, é se houve mais guerras e mortes feitas por democracias do que por ditaduras, inclusive comunistas e, em segundo, se houve mais mortos feitas por democracias do que pelos regimes comunistas. Esta é a comparação correta. Não é a arma que mata, é o atirador; não é a propriedade privada ou a propriedade pública que matam, mas os representantes eleitos ou os déspotas, ou o partido que manda executar. Quem, te pergunto, matou mais? Agora, mesmo que venhas a reconhecer a superioridade homicida do comunismo (em termos proporcionais, no tempo que durou, acredito que o nazismo ainda tenha matado mais), isto não serve como alento para quem defende o capitalismo. O que serve sim como parâmetro é saber que graças ao sistema capitalista, o número de famintos crônicos no mundo tem diminuído, a expectativa de vida tem aumentado e, politicamente, o benefício do número de democracias idem.[1]

Um recurso contumaz daqueles que preferem não tocar neste assunto é contrastar os casos autodenominados “socialistas” com o que deveria ter sido o socialismo, o chamado “socialismo real”, contra o que foi apregoado, entre outros teóricos, por Karl Marx. O problema deste tipo de argumento é que ele cria um sistema circular de justificação: nunca se torna possível criticar o socialismo (ou o comunismo) porque ele não chegou a acontecer, mas é tudo culpa do capitalismo que não deixa com que o mesmo se concretize (vide o caso do embargo a Cuba) e, por isto mesmo vale à pena continuar lutando por ele... Ora, se for assim, então o mesmíssimo raciocínio vale para o capitalismo! Como nossos esquerdistas desprezam o pensamento diametralmente oposto ao seu, não se interessando em estudá-lo, vai aqui uma dica, há várias tendências de estudo e justificação do capitalismo. Uma delas é o chamado libertarianismo ou “anarco-capitalismo”, para a qual, o que temos são variações de estatismos. Portanto, o verdadeiro capitalismo, com seu perfeito equilíbrio entre demanda e oferta nunca chegou a ocorrer devido à deformação do mercado feita pela mão pesada do estado. Analogamente, ao que diz a esquerda, mas na razão diametralmente oposta, o capitalismo nunca contém deformidades ou erros, pois é tudo culpa da influência estatal. Fácil, não? Pois este tipo de sofisma é o mesmo, equivalente de nossa esquerda, só que na trincheira oposta. E esta mesma esquerda é sim hegemônica nas academias de ensino superior no Brasil, em que pese certa autocomiseração de alguns cordeiros.




[1] Entre tantas fontes possíveis, eu cito duas bastante ricas: O Ambientalista Cético de Bjørn Lomborg, editado no Brasil pela Campus e Atlas of the Future de Ian Pearson, editado pela MacMillan. Este já defasado, mas bem instrutivo sobre tendências passadas.

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