sexta-feira, maio 16, 2014

Conflitos Ambientais: o Parque Estadual do Rio Vermelho


Pinus elliottii, o novo vilão para militantes xenófobos travestidos de ecologistas.
Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pinus_elliottii

O Parque Estadual do Rio Vermelho (PAERVE), Florianópolis, SC segue em uma contenda que levará a perda de uma imensa e interessante área verde.

“Segundo o presidente Gean Loureiro (PMDB), (...)
“ ‘Não há dúvidas de que aqueles pinheiros são nocivos aquele ecossistema. Queremos devolver a vegetação e característica das dunas e restingas’, diz Loureiro. A recuperação da flora nativa deve ocorrer de forma natural e estimulada, com plantio de mudas cultivadas em viveiros, com preferência a espécies frutíferas.
“O dinheiro arrecadado com o leilão, de acordo com o presidente da Fatma, será investido na própria unidade de conservação ambiental. Não há previsão de quanto renderá a venda da madeira extraída do Rio Vermelho, mas, segundo Loureiro, a retirada dos pinheiros já representa um grande lucro para o ecossistema e comunidades locais. Depois, do Rio Vermelho, 0 corte de pinus, casuarinas e eucaliptos ocorrerá nas demais unidades de conservação ambiental do Estado.”
[RT @ Floresta de pinheiros vai ao chão no Rio Vermelho, para futura substituição por vegetação nativa http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/110252-floresta-de-pinheiros-vai-ao-chao-no-rio-vermelho-para-futura-substituicao-por-vegetacao-nativa.html  via @ND_Online]

Em primeiro lugar, como era esta “mata nativa”? Embora a ilha tenha perdido parte substancial de sua vegetação de 1500 aos dias atuais, se considerarmos a partir dos anos 40, a vegetação se recompôs significativamente.[1] O motivo é simples, com a mudança de atividade econômica predominante, a agricultura e pecuária cederam espaço para outras essencialmente urbanas e o desmatamento arrefeceu. Claro que isto não serve como desculpa para que, atualmente, a ocupação se processe de qualquer forma, sem controle, legislação ou fiscalização. No entanto, o alarmismo é inconsequente, exagerado e falso e traz efeitos nefastos ao desenvolvimento sustentável por criar e fomentar uma oposição radical e irreconciliável entre diversos setores da sociedade. Enfim, o alarmismo segue uma agenda política anti econômica que, a seu tempo, cobrará dividendos em termos de tributação sobre aqueles que o aceitarem e sofrerem com sua aceitação hegemônica.
Quem já andou em uma mata nativa sabe que nem toda biomassa é constituída por “espécies frutíferas”, então como este presidente da Fatma, político de carreira quer substituir uma floresta, artificial que seja, por mata nativa? Isto é, com toda a diversidade que caracteriza uma formação original em ambiente subtropical dando preferência às arvores produtoras de frutos comestíveis? Isto é contraditório, para dizer o mínimo. Assim como soa sem nexo falar que a recuperação da vegetação deve ocorrer de forma natural e estimulada(sic). Ora, ou é de uma forma ou de outra, não há como ser as duas ao mesmo tempo no mesmo espaço, exceto é claro, se ele estiver se referindo à diferentes seções da área de interferência. Como se pode falar em “árvores frutíferas” quando se afirma na mesma entrevista que quer “devolver a vegetação e característica de dunas e restingas”? É bizarro! A vegetação típica desses ambientes é herbácea e, no caso de restingas, depende se estivermos tratando do conceito geológico, mais estrito ou do botânico, que não se trata, necessariamente, de solo de restinga. Minha impressão é que estes burocratas não têm a menor ideia do que estão falando.
Mas falando em dinheiro, onde está o plano com orçamento detalhado de reinvestimento dos recursos arrecadados no parque, para sua alegada manutenção? Ou vão me dizer que esta será mais uma obra daquelas em que “vamos fazendo”, com se tornou comum na “república do gerúndio”? Ora, se algo assim é afirmado supõe-se que haja definição de quanto e como vão ser investidos, quanto será auferido, tim-tim por tim-tim. Ou é isto ou não passa de promessa de palanque.
Ora vejam só... Enquanto que não há consenso sobre o calculo econômico a ser adotado em avaliações de impacto ambiental, nosso presidente da Fatma afirma que já houve lucro em só retirar os pinheiros. A não ser que se arbitre o valor para o que seja considerado benefício ambiental, não há como se afirmar isto, mesmo porque há divergências sobre o conceito de meio ambiente, tendo este evoluído ao longo da história. O bairro (chega desta historia ridícula de ‘comunidade’) não vive da agricultura. Como todo bairro, ele é tipicamente urbano e poderá ter prejuízos em termos ambientais para começar pelo microclima que será alterado com a retirada da biomassa e suspeito que teremos decorrências do desmatamento, como invasões de insetos nas residências próximas ao parque.
E o que dizer sobre a segurança? Haja vista a falta de policiamento atual no próprio bairro, eu não tenho como nutrir boas expectativas de que ainda teremos fiscalização na área desmatada do parque. Ou alguém aí acredita que um bairro sem policiamento regular ainda terá como garantir a segurança de seu parque? O que ocorrerá, a exemplo de outras áreas descampadas Sr. Loureiro será uma massiva ocupação irregular do que hoje é uma aprazível área verde na ilha. Parabéns pela ignorância histórica de vocês e seus mitos ambientalistas esdrúxulos.
Aliás, a matéria não está completa em relação aos objetivos de constituição do parque, que não se limitaram a mera contenção de dunas e sim de criar uma área pública, de passeio e convívio ao lado de estudo de adaptação de espécies para fins comerciais.[2] Em qualquer lugar do mundo isto seria chamado de desenvolvimento sustentável, mas aqui não. Por quê? Porque a espécie símbolo é o pinheiro americano e nosso típico ambientalista é do “tipo melancia”, verde por fora e vermelho por dentro, se é que me entendem. São fundamentalistas religiosos que se acham cientistas e têm ojeriza à planta de origem norte-americana. Por que, me digam o mesmo critério e alarmismo não se aplica a dezenas de outras espécies, como por exemplo, a braquiária (Brachiaria decumbens)[3], erva daninha que assola a superfície do parque e não serve para o pastoreio, mas é de origem africana? É o principio de cotas aplicada à natureza, por acaso?
Para mim está claro que a motivação não é de ordem científica, mas pseudocientífica.




[1] Conferir o clássico estudo de Mariléa M. L. Caruso, O desmatamento da Ilha de Santa Catarina de 1500 aos dias atuais (UFSC, 1990).
[2] Conferir a este respeito o elucidativo blog O Parque do Rio Vermelho pelas palavras de seu fundador Henrique Berenhauser. Disponível em: <http://livroberenhauser.wordpress.com/2010/12/15/o-parque-do-rio-vermelho-pelas-palavras-do-seu-fundador-henrique-berenhauser/>. Acesso em: 16 mai 2014.
[3] Conferir BRASIL, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Espécies invasoras. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/port_inva.pdf>. Acesso em: 16 mai 14. 

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