Ali acima, no quadrante direito é exatamente onde nos situamos. |
Amartya Sen conta, logo no início de seu Desenvolvimento como Liberdade algo que
o marcou quando criança. A sua cidade era povoada por hindus e muçulmanos, mas
que se concentravam em bairros distintos. Pura segregação étnica, mas com certa
estabilidade até que as turbulências pela secessão com base religiosa que
formavam o antigo Paquistão Oriental
(atual Bangladesh) tomassem conta do
país provocando um terremoto político-social.
Os
indianos de diferentes religiões se evitavam, mas o emprego nem sempre estava
onde os fiéis de um mesmo culto se encontravam. Quando pequeno, Amartya viu um
homem sangrando e berrando por socorro. Ele e seu pai, hindus carregaram o
homem para dentro de casa, um muçulmano para depois levá-lo para o hospital. Tinha
sido esfaqueado justamente por ser um muçulmano andando em uma região urbana de
maioria hindu. Aquilo o impressionou e iria formar sua visão sobre
subdesenvolvimento de um modo distinto da maioria dos economistas de sua época.
Vale dizer, keynesianos...
A
influência desta percepção ao longo de sua vida recaiu sobre a cultura e desta
para a ação humana. É a ação humana que leva indivíduos a serem o que são, os
determinantes da sociedade e da economia. Ou seja, se parte de agentes
microeconômicos para a macroeconomia e não o contrário, como fazem
macroeconomistas. Não é a toa que Amartya Sen é uma das maiores referências no atual
pensamento liberal (que a maioria dos liberais brasileiros ainda não descobriu).
Mas não é disso que queremos falar aqui e agora...
Quando
um filho de jamaicanos é acolhido em um país como a Inglaterra e vive em uma
das mais belas e dinâmicas cidades globais, Londres só de replicar seu ódio ao
mundo ocidental percebemos que há algo profundamente errado e irracional nesta
civilização que amamos: ela aceita e tolera intolerantes.
Este é o ponto. Não dá para termos uma civilização segura calcada nos
princípios do Iluminismo e na liberdade social e econômica quando ela permite
que ovos de serpentes sejam depositados entre seu plantel de aves canoras que
não olham para baixo, para seus ninhos.
Quanto
tempo deixaremos correr para percebermos que pode ser muito tarde para
reagirmos? Não se trata de reagir com o racismo ou alguma forma de etnicismo ou
boicotando a liberdade de expressão de quem quer que seja (mesmo que ele a use
para destilar veneno de ódio a uma cultura), mas sim de definir, discriminar
(legalmente) e detectar quem quer que seja que esteja semeando a violência.
Cabe lembrar que o facínora que atropelou 40 e matou 4 antes ser morto dizia o
que dizia desde 2006 incentivando o ataque e a submissão religiosa de cidadãos europeus.
Já era um sujeito conhecido e pasmem, tratado como “figura secundária” pelos
serviço de inteligência britânico! Nossa! Se este era um “secundário”, não
quero nem ver o que é uma “figura primária”!!!
Liberalismo
realmente existente nunca prescindiu de um estado mínimo e o estado mínimo não
significa estado fraco. Significa estado eficaz com leis e procedimentos
eficientes. Se a pena capital é por demais polêmica, no mínimo, a prisão
perpétua deve ser adotada e observação de perto de todos os passos daqueles que
falam aos quatro ventos o que irão fazer. Se alguém parece com um pato, anda
como um pato e grasna como um pato, então deve ser um pato. Analogamente, se um
fanático religioso declara guerra à civilização que o acolheu, se propõe matar
inocentes e diz que seus fiéis devem submeter os infiéis a força, então não é
motivo suficiente para tratá-lo como o que diz ser?!
Nós pregamos
a paz, mas esta paz deve ser garantida com a eterna vigilância. Não confundam
nossa serenidade e hospitalidade com covardia. O braço forte da lei deve estar ao lado de uma sociedade e
mercado livres. Se hoje em dia há um discurso covarde de liberais-nutella que creem que só o Princípio de Não-Agressão (PNA)
seja suficiente para erigir um mercado autônomo sem estado, sem leis e sem
forças de repressão acreditem, isto não passa de um projeto fadado ao fracasso
e ridicularizado por bárbaros que tomarão armas, veículos, o que for a força
deixando corpos pelo caminho, como aconteceu ontem na ponte e palácio de
Westminster.
Um dia
os verdadeiros liberais que construíram a civilização ocidental serão lembrados
como liberais-raiz que não se submetem
à covardia que já apodreceu as raízes de nossa cultura com sua hegemonia. Aí o
jogo vira.
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