quarta-feira, janeiro 30, 2013

Pondérações sobre a Guerra de Secessão Americana

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Batalhas_da_Guerra_Civil_Americana

 Pondé... O causo é o seguinte, ele mistura fatos, certos historicamente falando, com opiniões, algumas claramente anacrônicas. Primeiro um aspecto moral, Lincoln não atacou o Sul para "estuprar mulheres", embora isto ocorra em maior ou menor grau em todas as guerras. Generais de moral ilibada e outros oficiais punem severamente subordinados que façam este tipo de coisa, mas aí é outro assunto... O que Lincoln fez teve um subproduto que foi a abolição da escravidão, o que foi algo muito bom. Só não foi 'ótimo', porque isto só ocorreria com a redução drástica do racismo, que não termina por decreto, como bem sabemos. O racismo só diminui (porque não termina nunca, assim como a inveja) para níveis irrisórios, com a maior miscigenação, o que vai ocorrer de uma forma ou de outra com a maior imigração nos EUA que, no caso, é latino-americana. Isto também gera, inadvertidamente, reações racistas dos próprios negros contra hispano-americanos, dentre outras razões por menos recursos para divisão em benefícios estatais. 

Agora, o que é a tese do artigo: Obama é um centralizador? Sim. O plano de saúde proposto por ele ameaça a economia americana? Eu penso que sim. Lincoln também foi um centralizador? Sim. Obama e Lincoln podem ser descritos como centralizadores pelos mesmos motivos? NÃO. No caso de Obama, não há como desenvolver um plano desta magnitude sem ordenamento jurídico federal. Vários presidentes americanos tentaram ser mais centralizadores, mas a constituição e reação americanas os impediu. Não é pelo caráter, todos têm sua "vontade de poder", mas pelo sistema, inteligentemente pensado e criado. 

O Sul ameaçava se separar do Norte e até houve proposta de integração com Cuba. Acredito que os sulistas atuais, sobretudos os que não descendem de grandes proprietários deveriam agradecer pela sua derrota nesta guerra que, sim, foi um divisor de águas em termos de destruição, com o largo uso de explosivos para matar mais, além da metralhadora citada por Pondé. A federação adotada nos EUA é um princípio de organização política adotada para conter a secessão desde antes desta guerra, lá com seus "pais fundadores". E foi inteligentemente pensada. Um grau de protecionismo econômico orientou esta guerra também, pois o Sul ameaçava (ou já executara, não sei ao certo), a importação de manufaturados ingleses, o que prejudicariam o mercado cativo yankee no sul do país. Ou seja, naquele período histórico, os EUA em seu centro de poder não compartilhava as mesmas teses de que viria se tornar um defensor mais tarde. No que concordo com eles, antes e depois, mas isto é outro capítulo...

Hoje o que permanece desta guerra? Apenas folclore, da mesma forma que a Revolução Farroupilha é lembrada no RS, uma guerra perdida, mas que "nos enche de orgulho..."

Perdemos e ponto.

Obama é um "festeiro", "não tem culhões"? É muito cedo para avaliar seu governo, mas uma das maiores críticas que se faz a seu governo é, justamente, o fato de que não rompeu com a política externa de seu antecessor. O Iraque e o Afeganistão controlados; os conflitos com a expansão russa no Ártico, no Cáucaso e na Europa Oriental; a queda de braço com a China por Taiwan; a caça e apoio ao confronto com terroristas; o "esquecimento" da América Latina; a tolerância com os babacas bolivarianos que exportam petróleo etc. Tudo, não vejo mudança nenhuma. Talvez, e daí sim, uma incrível imagem positiva fruto de um poder carismático inegável de Obama que consegue ser tão belicoso quanto Bush, mas continua sendo um "nice guy"! 

Isto só prova que nossas esquerdas, mídia e analistas, principalmente, do GNT não têm objetividade. 

É isto, ele escreve coisas com que concordo misturando opiniões com público alvo certo e um propósito: irritá-los. 

Conferir: Folha de S.Paulo - Colunistas - Luiz Felipe Pondé - Lincoln, Obama e Bono - 28/01/2013


2 comentários:

  1. Depois da guerra de secessão foi criado um mito em torno do sul, que teoricamente estaria defendendo a liberdade, o federalismo, a livre determinação dos estados contra o centralismo do norte industrializado. É como se o norte fosse o vilão a destruir uma sociedade harmoniosa que convivia pacificamente no sul, apesar das diferenças de raça, uma vez que cada uma conhecia seu lugar!
    Hoje, muitos "direitistas" sobretudo os conservadores, enaltecem os generais e a história da confederação. Vi muito isso entre alunos daquele senhor, que ficavam fascinados com a história dos bravos guerreiros do sul, derrotados pela engenhosa máquina revolucionária do norte, que se tornaria a fonte de todos os males americanos.
    Contudo, não fosse a guerra, ou tivessem os estados do sul vencido, os EUA seriam hoje uma África do Sul da vida. Teriam ficado estagnados no século XIX, de uma forma não muito diferente da brasileira que até os anos 1930 ainda conservava muitas características escravocratas.
    Quer mais: não fosse a luta pelos direitos civis, os EUA ainda manteriam o regime virtual de apartheid que imperava até os anos 1960. Isto é, dificilmente seriam a sociedade aberta e plural que são hoje, apesar dos "rednecks" que ainda representam o atraso naquele país.

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    1. Concordo plenamente contigo, Fernando. A propósito, em 2007 escrevi isto:

      Guerras e guerras



      Thomas J. DiLorenzo em Death by Government: The Missing Chapter cita o número de mortes causado pelos sistemas totalitários ao longo da história em O Livro Negro do Comunismo:

      U.S.S.R.: 20 million deaths
      China: 65 million deaths
      Vietnam: 1 million deaths
      North Korea: 2 million deaths
      Cambodia: 2 million deaths
      Eastern Europe: 1 million deaths
      Latin America: 150,000 deaths
      Africa: 1.7 million deaths
      Afghanistan: 1.5 million deaths

      Só que o autor, em sua sanha anarquista coloca 300.000 mortos durante a Guerra de Secessão nos EUA e outros possíveis 50.000 civis sulistas, durante o regime de Lincoln como necessários a esta lista. Segundo o autor, os soldados mortos equivaleriam a 1% da população do país à época (30 milhões de hab.). O autor compara a guerra que, entre outras conseqüências, acabou com o regime escravocrata dos estados sulistas a uma guerra perpetrada pelo “intervencionismo mercantilista”. Se for assim, então todas as vítimas de qualquer guerra no mundo também deveriam ser adicionadas.

      É verdade que o Sul “era a favor do livre-comércio”, mas esta é uma meia verdade, pois se os estados sulistas o eram, o comércio não era livre para todos cidadãos... Ele também era pautado pelo açoite e o racismo mais cruento, além de um bloqueio ao acesso a terra por outros colonos. Seria ingenuidade achar, hollywoodianamente, que a guerra foi libertária em suas causas, mas é igualmente insano achar que este não foi um de seus efeitos. Outros dados importantes são o acesso amplo à terra que a vitória republicana yankee teve sobre o Sul, bem como a industrialização e trabalho assalariado ao país inteiro. Coisa que a mente estreita de uma anarco-capitalista reluta em aceitar.

      [http://acasadefenrir.blogspot.com.br/2007/11/guerras-e-guerras.html]

      E mesmo que o fim da escravidão seja um subproduto indireto desta guerra, só por isto ela já valeu a pena. Horrível dizer isto, mas as agruras da escravidão só são equivalente a uma morte em vida ou vida morta. O que é isto senão uma guerra sem direito a defender-se?

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