Criticar o comunismo em contraposição ao capitalismo, como este sendo essencialmente melhor é fácil, mas também incompleto, pois comunismo é um regime de governo e capitalismo, um sistema econômico. Ocorre que sob o comunismo, a estatização total dos meios de produção que se convencionou chamar socialismo prima pelo gigantismo de estado, ou maior intervencionismo que qualquer forma de expressão já realizada dentro do capitalismo. E aí reside um erro comum aos nossos direitistas que, no afã de justificarem a reação ocorrida aos movimentos comunistas do pós-guerra na América Latina acabam por defender ditaduras.
Obviamente que nenhuma ditadura pode ser justificada, mesmo que em nome de uma resistência à comunização. Não se pode utilizar qualquer meio para atingir um fim, mesmo que este fim seja algo melhor do que a situação pretérita. Aliás, quem faz este tipo de relativização moral é justamente quem põe os fins acima dos meios, como os militantes comunistas têm sido notórios.
Já que se fala muito de “capitalismo” quando se expõe uma crítica ao comunismo, convém lembrar que não se trata de defender o capitalismo em toda suas formas diversas, em absoluto. Há configurações tomadas por sociedades capitalistas que são tão ineficazes produtivamente que têm como efeito trazer o risco de que movimentos de extrema-esquerda tragam ideias ultrapassados do séc. XIX, as quais só trouxeram miséria e caos no séc. XX de volta ao cenário político. E o imenso peso da burocracia dos estados latino-americanos é uma dessas mazelas e germes que levam ao parasitismo social e sentimento de injustiça. Embora muitas vezes desfocado, tal parasitismo social vira objetivo de toda uma cultura (observem nossa obsessão por concursos públicos), apontando para falsos inimigos – falsas bandeiras -. como o mito do “capitalista explorador”, sem nunca se perguntar que exploração é esta? Ao mesmo tempo em que se ocultam as ligações de alguns empresários privilegiados com a estrutura de estado.
A saúde financeira da sociedade depende de um equilíbrio fiscal. É insano achar que se pode manter gastos elevados permanentemente além das receitas. No plano externo, se a balança de pagamentos não é positiva, a balança comercial deve compensar este desequilíbrio. Agora imaginemos um país como a Argentina, cuja sociedade se vê fechada, econômica e politicamente, em prol de uma “casta de farda” (poderia ser qualquer uma, com ou sem farda, mas igualmente “casta”), o que poderá atrair como investimento? Nada de sustentável. A menor ameaça de prejuízo, o estado-sócio de empresas privilegiadas fará de tudo para socorrê-las. Então, sobram as exportações, mas como se o estado tolhe a liberdade econômica e entrada de investimentos? O resultado é óbvio:
A imagem abaixo é uma das mais ilustrativas para o que queremos demonstrar. A Argentina, tida como país rico até o início do século XX foi um doa países que mais decaiu (relativamente) em renda em relação aos países com status econômicos similares no mundo. O que isto prova para nós? Duas coisas:
(1) que não basta ser um país capitalista para atingir o sucesso econômico de uma sociedade, mas um conjunto de fatores que são capitalistas devem ser devidamente calibrados para garantir o desenvolvimento e prosperidade;(2) as política populistas ou ditatoriais não são exclusividade de sociedades capitalistas podendo existir em outros tipos de governos (onde são mais comuns, aliás), mas que quando adotadas em sociedades capitalistas, a mera existência da propriedade privada por si só não é garantia nem antídoto ao subdesenvolvimento.
Se não ficou claro, quando falarem em “capitalismo” definam que tipo de capitalismo está sob crítica para não incorrerem em nenhum tipo de desonestidade intelectual.
Exemplos não faltam… Quem já não se deparou com aquele discurso automático associando Capitalismo ao Liberalismo como se tudo que funciona mal no capitalismo (e há muita coisa mesmo) é devido ao liberalismo? Como se este tivesse sido uma ideologia fortemente compartilhada por capitalistas em algum momento da história do país… Vejamos aqui, claramente, como um banco público, ou seja, recursos de todos nós serve para locupletar uma elite associada à burocracia estatal formando um verdadeiro conluio anti-liberal ou o que se convencionou chamar Capitalismo de Estado:
Espero que tenha ficado claro que não há um estado de coisas absoluto chamado capitalismo que seja totalmente diferente do socialismo. Há graus de intervenção estatal que podem trazer as mesmas amarras administrativas do socialismo ao capitalismo, só que por outras vias, não revolucionárias. Portanto, o verdadeiro inimigo do modelo econômico socialismo e, por extensão, da ditadura comunista não é o capitalismo, mas sim o liberalismo, cujos princípios correspondem a ação econômica, mas de modo abrangente devem sustentar a política e a cultura, sem as quais, o intervencionismo retorna por outras vias.
Anselmo Heidrich
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