sábado, novembro 26, 2011

Protecionismo Econômico - 1


Dois bons artigos para entender os males do protecionismo econômico. Primeiro uma crítica aos EUA e depois, outra ao Brasil:




Desabastecimento de aço ameaça EUA
Tatiana Bautzer Valor Econômico - 09/03/2005 - edicão nº 1216



O mercado americano de aço, após cinco anos de tarifas antidumping que restringiram as importações, está passando por ameaças de desabastecimento e altos preços. O risco de interromper atividades de empresas consumidoras, e os custos de comprar aço em contratos emergenciais, levou grandes consumidores, como a Ford, General Motors e Delphi às últimas audiências da International Trade Commission (ITC) para pedir a suspensão das tarifas. Segundo a indústria consumidora, o preço médio da tonelada de aço laminado a quente passou de US$ 350, em meados de 2003, para picos de US$ 700 ano passado. O preço médio atual é de US$ 600.
O diretor-executivo de compras da Ford, Jeff Engel, disse durante o depoimento que, para evitar fechamentos "desastrosos" de fábricas por falta de matéria-prima, a Ford triplicou em 2004 o número de compras emergenciais no mercado à vista. "Da nossa perspectiva, as siderúrgicas parecem estar operando a plena capacidade. Qualquer que seja sua utilização de capacidade informada, só podemos assumir que as siderúrgicas estão vendendo tudo que têm disponível de laminado a quente, considerando os preços e falta de produto."
A Delphi, maior produtora de autopeças do mundo, reportou também a falta do produto. O vice-presidente de suprimentos, David Nelson, disse à ITC que "como a Ford, a falta de produtos, entregas atrasadas e extensão de prazos forçaram a Delphi a comprar diretamente no mercado spot, que tem custo de 50% a 100% acima dos preços contratados". Por isso, alguns consumidores de aço reportam terem pago até US$ 750 por tonelada nas compras no mercado spot. A Delphi preferiu não fazer mais declarações sobre o assunto porque está em litígio com algumas siderúrgicas por quebra de contrato e sobretaxas.
Foi a primeira vez que uma grande montadora americana depôs contra as tarifas antidumping aplicadas sobre importações de aço. Até as revisões do ano passado, montadoras como a GM e Ford temiam problemas durante o tenso clima pré-eleitoral se fizessem críticas às tarifas protecionistas. A International Trade Commission deve chegar a um veredito final sobre as tarifas aplicadas a diversos tipos de aço em meados de abril.
O advogado dos consumidores, Louis Leibowitz, do escritório Hogan & Hartson, está otimista com a possibilidade de extinção ou redução das tarifas. Um dos argumentos usados pelo escritório foi a falta de interesse de exportadores brasileiros e japoneses durante a audiência no órgão do Departamento do Comércio. "Esses países estão mais interessados hoje em atender a demanda da China", diz Leibowitz. O consumo de aço na Ásia é hoje 200% maior do que em 1998, quando começaram as investigações antidumping contra aço nos EUA. Jeff Engel, da Ford, disse que "não consegue nem fazer com que as siderúrgicas brasileiras atendam a seus telefonemas". Um porta-voz da Ford consultado pelo Valor diz que a empresa é favorável ao fim das tarifas e que "o governo deveria deixar o mercado fixar preços".
Indústrias querem fim de tarifas antidumping
Em três anos, a situação do setor siderúrgico mudou radicalmente nos Estados Unidos. Uma onda de aquisições formou grandes empresas. As três maiores, US Steel, Nucor e International Steel Group (ISG), formadas a partir de fusões entre empresas menores, controlam 52% da produção no mercado americano. As altas tarifas aumentam o poder de fixação de preços das indústrias.
Só nos últimos 12 meses, as ações das três empresas subiram cerca de 100%. A Nucor apresentou Ebitda de US$ 2,14 bilhões, lucro líquido de US$ 1,12 bilhão e retorno sobre capital de 39,8% no ano passado. A International Steel Group (ISG) teve lucro líquido de US$ 1,03 bilhão e retorno sobre capital de 68,3%.
Do lado dos produtores locais, a indústria siderúrgica mostrou novamente suas articulações políticas e trouxe dezenas de senadores e deputados para depor a favor da manutenção das tarifas. Continuam a favor das empresas o senador Robert Byrd, democrata de West Virginia, um dos mais antigos senadores e com grande poder na Casa, e John Rockefeller IV, outro democrata do mesmo Estado, além do senador Barack Obama, nova estrela do Partido Democrata, do Estado de Illinois. Entre os republicanos, estava o atual presidente do Comitê do Judiciário, Alan Specter, do Estado da Pensilvânia, um dos mais atingidos pela falência das antigas pequenas siderúrgicas.
Mas a distância das eleições presidenciais em 2008 reduz um pouco o poder político sobre os consumidores de aço. Para Leibowitz, os senadores e deputados "não disseram nada que a ITC já não tenha ouvido antes". Escaldado pelas batalhas contra os lobbies, o assessor econômico da embaixada brasileira, Aluizio Lima Campos, acha que os problemas de desabastecimento e a alta de preços "favorecem" os produtores prejudicados pelas tarifas antidumping, mas não garantem a extinção das medidas protecionistas.
Tatiana Bautzer é correspondente em Washington.




MAIS AÇO... e mediocridade brasileira.


IBS reage e ataca governo e montadoras
Francisco Góes Do Rio Valor Econômico - 09/03/2005 - edicão nº 1216

A indústria siderúrgica partiu ontem para o contra-ataque e criticou o governo e os principais consumidores de aço no país pela redução a zero do imposto de importação de 15 produtos siderúrgicos. "Se o objetivo do governo é impedir a alta dos preços do aço ao consumidor final, seria mais coerente reduzir a alíquota de importação em toda a cadeia, incluindo o segmento de veículos e não só o da matéria-prima", rebateu em nota o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), entidade que representa as empresas do setor.
"Se a preocupação (do governo) é com a inflação, é mais eficaz atacar na ponta final da cadeia, onde o bolso do consumidor é mais atingido", disse ao Valor o presidente do IBS, José Armando de Figueiredo Campos. Na nota, o IBS dirigiu suas baterias contra os fabricantes de veículos, que vinham alertando o governo sobre eventuais efeitos da alta do preço aço sobre a política econômica. "O episódio (a eliminação do imposto) revela uma subversão da lógica do mercado em benefício de setores específicos que gozam de tarifas protecionistas de até 35%, como o caso do setor automotivo."
Procurado, o presidente da Anfavea, Rogelio Golfarb, não foi encontrado para responder as críticas do IBS, mas a assessoria de imprensa da entidade disse que prevalece a posição já manifestada de que a redução do imposto é positiva e funcionará como ferramenta nas negociações de preços no mercado doméstico. Para o IBS, sindicatos e associações de consumidores manobraram de forma especulativa e preventiva para reajustar os próprios preços. Serviu de combustível para essa manobra, segundo o IBS, o anúncio da Companhia Vale do Rio Doce de aumentar os preços do minério em até 90%.
Um reajuste dessa magnitude no minério teria impacto de até 15% no preço do aço, segundo carta enviada, no fim de janeiro, pela Anfavea, ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e que considerava cálculos de analistas do setor. O presidente do IBS negou que a redução das alíquotas vá influenciar os entendimentos entre usinas e consumidores: "As negociações de preços continuarão a ser norteadas pela oferta e demanda. Se o mercado não é comprador, os preços tendem a se estabilizar e se o mercado é ruim, os preços caem", comparou Campos.
Essa não é, porém, a realidade da siderurgia que desde 2003 vive um ciclo de alta puxado pela forte demanda internacional, sobretudo da China. Campos informou, no entanto, que as usinas registram queda na demanda de alguns setores, como construção civil, bens de capital e máquinas e equipamentos, pelo terceiro mês consecutivo. O executivo disse ter conversado, segunda-feira, com Furlan a quem argumentou que o setor considera a medida "injusta".
"Todo nosso esforço é para que o governo reconheça que deu um passo errado e volte atrás na medida", disse o presidente do IBS.

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Criticar o imposto 'no final da cadeia' não isenta a falta de competitividade como danosa.

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