sábado, novembro 07, 2015

Os barbados do grupo Titãs deveriam tomar vergonha na cara


Como eu tenho filhos pequenos ouço com frequência canções infantis em casa e, particularmente, em festinhas. Uma das musicas que, infelizmente, mais ouvi na minha infância foi a sádica “Atirei o Pau no Gato” que, sem ter nem porque, entoava loas ao puro sadismo de atacar o felino. Relembremos esta obra prima da pedagogia da tortura que marca uma época e mostra como, de certa forma, em alguns aspectos evoluímos culturalmente sim:
 Atirei o pau no gato tô Mas o gato tô Não morreu reu reu Dona Chica cá Admirou-se se Do berro, do berro que o gato deu Miau !!!!!!  
Recentemente, na onda politicamente correta, à canção original foi adicionada a estrofe:
 Atirei o pau no gato tô Mas o gato tô Não morreu reu reu Dona Chica cá Admirou-se se Do berro, do berro que o gato deu Miau !!!!!!  Não atire o pau no gato tô porque isto tô não se faz faz faz O gatinho nhô É nosso amigo gô Não devemos maltratar os animais jamais! 
Bem, melhor seria enterrar de vez a letra no passado das esquisitices humanas. Mas, e o Titãs, o que dizer a respeito? Ontem fui ao show dos caras e creiam-me, com exceção de uma ou duas canções, não gosto do trabalho deles, mas fui porque havia antigos colegas e amigos que valiam a pena encontrar e, afinal, não tive que pagar pelo convite. Passam o set com clássicos deles e uma música nova que me deu a impressão de estarem aprendendo a compor melhor quando, ao final, lá vem a punk rock Polícia. Vejamos a letra:
 Dizem que ela existe Prá ajudar! Dizem que ela existe Prá proteger! Eu sei que ela pode Te parar! Eu sei que ela pode Te prender!...   Polícia! Para quem precisa Polícia! Para quem precisa De polícia...   Dizem prá você Obedecer! Dizem prá você Responder! Dizem prá você Cooperar! Dizem prá você Respeitar!...   Polícia! Para quem precisa Polícia! Para quem precisa De polícia... 
Pois bem, a canção foi gravada no álbum Cabeça Dinossauro em 1996 e, em 1998, a artista plástica Mariana Roquette Pinto, namorada do então baterista do grupo Charles Gavin, foi sequestrada e mantida em cativeiro no Rio de Janeiro. Após quase uma semana, ela foi libertada. Adivinhem por quem?

(a)   
Por um leprechaum.
(b)   
Pelo Papai Noel.
(c)    
Pelo Curupira.
(d)  
Pelo Yeti.
(e)   
Pela Divisão Anti-Sequestro (DAS) da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

O que o grupo deveria fazer em seus shows, em minha opinião é não tocá-la mais ou alterar a letra, isto se quiserem ter um mínimo de integridade moral. Agora se a ‘onda’ é posar de adolescente pós-cinquentão ou sessentão, então dane-se, não é mesmo? Afinal por que também não fazer uma letra abominando a educação porque temos professores que abusam das faltas, não avaliam, não querem ser avaliados, tem conluio com outros servidores e aplicam atestados médicos para justificar suas faltas constantes? Por que também não fazem uma letra contra a saúde pública por que afinal temos médicos que faltam ao serviço e ainda se esquivam de avaliar corretamente a saúde de pacientes segundo seus protocolos e vendem atestados? Por que não extinguir a democracia por que temos políticos corruptos? É a mesmíssima coisa que prega o Titãs sobre um serviço público específico. Caros, a saída nunca é revolucionária, infantil, adolescente e inconsequente. As soluções são reformistas, pela transparência pública, o estado de direito, a corregedoria e, na base de tudo, o apelo moral. Ou é isto ou é a barbárie.

Agora se a opção for pela barbárie, os Titãs podem se esconder em condomínios da zona sul do Rio De Janeiro ou bairros como o Morumbi em S. Paulo. Como eu acho que eles não estão nem aí, nem aqui, como já disseram em outra letra, que se mantenham sem a preocupação que marca a civilização, do cuidado e respeito com o outro. Afinal, não são eles que estão oferecendo seus corpos como escudos para defender outro ser humano mesmo. São tempos estranhos estes, quando produções infantis têm maior seriedade do que barbados pulando como primatas ao ponto de afrouxar seus cérebros de dinossauros.


A propósito, cf. 



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