segunda-feira, fevereiro 27, 2012

A noite escura da amoralidade

A criminologia se apóia em varias ciências para descobrir seu objeto de estudo, o crime. Entre elas está a biologia e a sociologia, das quais derivam diferentes correntes de pensamento. Em sua meta de compreender as causas do crime, a criminologia se distingue do direito penal que, por sua vez, é normativo. Mas, divergências a parte, me parece faltar um pedaço da pizza nesta historia toda... Se a criminologia pressupõe o estudo da sociedade para compreender o comportamento delituoso, temos que admitir a moral ou comportamentos orientados por padrões morais como constitutivos das sociedades. E a moral é claramente normativa, sendo uma base da justiça e, por extensão, do direito. Não levá-la em conta tem como produto (direto) o crime, que começa na imoralidade. Por essa razão temos a sensação que comunidades menores, em priscas eras, havia uma maior estabilidade e repressão espontânea, realmente social e não só estatal ao crime. Portanto, dizer que “tudo é relativo” leva ao universo sem referências onde o próprio estudo das leis perde todo seu sentido. Vejamos esta bizarrice aqui:

Os grupos conservadores, liberais (no sentido brasileiro), cristãos, judeus sionistas etc. têm-se limitado a opor à hegemonia revolucionária nas universidades o combate intelectual, a “guerra cultural” ou “luta de idéias”. Apostam nisso o melhor das suas forças. Mas é estratégia absolutamente impotente, pois o que está em jogo não é realmente nenhuma “luta de idéias” e sim uma luta pela conquista dos meios materiais e sociais de difundir idéias – coisa totalmente diversa. Você pode provar mil vezes que tem a idéia certa, mas, se o sujeito que tem a idéia errada é o dono das universidades, da mídia e do movimento editorial, o que vai continuar prevalecendo é a idéia errada. (...) A luta pela ocupação de espaços pode comportar uma parte de debate político-ideológico, mas tem de ser uma parte bem modesta. O essencial não é vencer as “idéias” do adversário, mas o próprio adversário, pouco importando que seja por meios sem qualquer conteúdo ideológico explícito. Trata-se de ocupar o seu lugar, e não de provar que ele está do lado errado. Isso se obtém melhor pela desmoralização profissional, pela prova de incompetência ou de corrupção, pela humilhação pública, do que por um respeitoso “debate de idéias” que só faz conferir dignidade intelectual a quem, no mais das vezes, não tem nenhuma.
Em Obviedades estratégicas
Aqui temos um Olavo de Carvalho reciclado, maquiavélico agora, uma vez que parece não ter logrado grande coisa com sua cruzada lá na Virgínia... Bem, o que está errado no raciocínio dele? A desconsideração de que os grupos que, atualmente, mais nos influenciam culturalmente começaram no campo das idéias, quase que exclusivamente. E eles eram essencialmente professores que, por sinal, continuam ganhando mal e não sendo proprietários dos meios de produção intelectuais, dos quais Olavo clama pela tomada. O caso é que a ideologia se estendeu, atingindo esferas antes não contaminadas, como é o caso do domínio legal do qual falávamos mais acima. Os grupos que não tinham estratégias claras para obtenção dos recursos materiais tinham o que efetivamente? A força das idéias e muito embora eles não sejam os líderes ou gestores desse processo revolucionário, o corpo de doutrinas esquerdistas está sim no topo da agenda política e jurídica do país (estatizações, direito alternativo, relatividade da propriedade, anti-capitalismo etc.). Bem ou mal, a força, o sustentáculo deles foi uma visão apoiada em seus valores morais. Ora, se jogarmos isto fora, esta âncora de ideais que nos mantém vivos na tempestade de dúvidas que é a busca pela compreensão das sociedades, não temos nada. Simplesmente, nada.
Então deixemos a dominação material de lado e vivamos apenas de ideais? Não, mas a visão ideológica que deve ser endossada é justamente a que permite igualdade de direitos para que qualquer um possa deter domínio material próprio, que o torne o mais autônomo possível em relação a quem concentre mais recursos. Tal autonomia não deve significar isolamento ou uma espécie luddita de auto-suficiência, mas aquela que permita reciclar ou mudar a parceria econômica em função de um mercado competitivo, do interesse pessoal, do livre-arbítrio. Só tal sistema é que sustenta também a diversidade e maior autonomia de idéias.
Se não formos por aí, não entraremos nos eixos. A busca por ligações, porém minoritárias de Olavo de Carvalho é uma “obviedade estratégica” similar a do status quo. Sem uma busca e reafirmação moral, não nos diferenciaremos daqueles que já a jogaram no lixo. Se “um respeitoso ‘debate de idéias’ (...) só faz conferir dignidade intelectual a quem, no mais das vezes, não tem nenhuma”, o jogo amoral sem o debate de idéias só faz destituir a dignidade moral de quem, no mais das vezes, tem alguma. Simplesmente, nos torna todos indistinguíveis, impuros e comuns como gatos pardos na noite escura da amoralidade.
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