domingo, fevereiro 26, 2012

A visão seletiva da agressividade em sala de aula

A jornalista não apontou propriamente onde e como ocorre a agressão em sala de aula, ela simplesmente não observou a que já ocorre, concentrando-se em uma que pode ocorrer. Pode-se aventar que a proposta do artigo não era esta, mas acho que se vale discutir o problema de modo completo, uma parte importante dele não pode estar ausente.

Obviamente que bater em alunos não adianta ao processo educativo. Castigo sim, mas como os da Supernanny, bem behavioristas. Agora, este negócio de porrada é só para criar um bando de recalcados (dos dois lados). Educar é domesticar, civilizar.* O contrário é manter a barbárie atual. Para isto já temos as ruas e o ECA.**

Agora esta jornalista tem um gatilho rápido contra os professores. Chega a mencionar o The Wall do Pink Floyd, mas esquece do nível absurdo de agressividade contra os professores. Para ser justo - se é que ela se importa com a Justiça enquanto valor moral, mais do que mera lei -, ela teria que se condoer com os dois lados desta equação.

Aqui, o artigo em questão:
Tapas e palmadas devem voltar às salas de aula?

Antigamente era comum punir crianças nas salas de aula com castigos como ajoelhar no milho, dar tapas na cabeça, puxões de orelha e palmadas com uma régua – ou a famosa palmatória. Agora, 49% dos pais britânicos acham que essas práticas deveriam voltar para as escolas. Os dados são de uma pesquisa do suplemento de educação do Times que ouviu mais de 2 mil pais e mães ingleses. Para aumentar o espanto, outra pesquisa com 530 crianças revelou que uma em cada cinco delas também quer a volta dos castigos físicos.

A pesquisa foi lançada em um momento de debate sobre a disciplina nas escolas do Reino Unido. O Secretário de Educação, Michael Gove, quer dar mais poder aos professores para repreender os alunos. Desde 1984 a legislação inglesa veta castigos físicos nas escolas.

Muitos professores não concordam. “Em uma sociedade civilizada, ninguém deveria poder bater com varas em crianças como uma forma de melhorar o seu comportamento”, afirmou Chris Keates, líder da Associação Nacional do Sindicato das Professoras para o The Independent.

Fiquei chocada com a pesquisa. Será que tanta gente ainda acredita que para conseguir disciplina nas salas de aula, é preciso usar a força? Os meus melhores professores nem mesmo elevavam a voz para pedir atenção, mas as suas aulas eram tão interessantes que a maior parte dos alunos ficava atenta. Acho espantoso que essa discussão tenha voltado agora, tantos anos depois de maio de 1968, quando estudantes de vários lugares do mundo foram às ruas para pedir mais democracia e respeito nas escolas e faculdades.

Pra pensar a respeito, que tal lembrar do álbum genial do Pink Floyd, The Wall?


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*Domesticar sim, pois também somos animais. Minha visão é claramente etológica.
** Refiro-me ao ECA porque este estatuto desobriga ou, ao menos, reduz substancialmente as obrigações e, portanto, a moral do adolescente se concentrando em obrigações estatais para com o indivíduo que porta mais direitos que deveres.

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