terça-feira, agosto 02, 2011

Assassinos não precisam de coerência


Reinaldo Azevedo não me convence. Neste texto, ele discute o que já demonstrei em outro post, como a mídia tem deturpado o caso do terrorismo norueguês partidarizando os ataques covardes e insanos de um louco. Vejamos um excerto aqui:


Noto que Breivik, e  abordei esta questão ontem, já foi tratado como um fundamentalista cristão, que repudia os desregramentos da sociedade moderna— deu-se destaque ao fato de que ele gostaria de conhecer Bento 16 —, lamentando os hábitos promíscuos da mãe e da irmã, embora, consta, tenha consumido drogas e procurado prostitutas antes de fazer suas loucuras. Reparem o que está em curso: o assassino em massa revelaria a real face da direita, seria simpático ao fundamentalismo cristão, é islamofóbico, teria inclinações neonazistas, mas também, como já conta em seu perfil na Wikipedia, seria simpático ao sionismo e a Israel.Prestem atenção a estas opiniões:Sobre o casamento- ”O casamento, tal como praticado na sociedade burguesa, é, em geral, uma coisa contra a natureza. Mas um encontro entre dois seres que se completam mutuamente, feitos um para o outro, é, no meu entender, quase um milagre.”Sobre o cristianismo- “A religião está em perpétuo conflito com o espírito da livre indagação.”- “Para nós, a catástrofe é estarmos amarrados a uma religião que se rebela contra todos os prazeres dos sentidos.”Sobre nascimentos fora do casamento“Eu amo ver essa exibição de saúde à minha volta.”Palavras de um comunista tentando destruir a ordem burguesa e o fundamentalismo cristão? Não! Palavras de um nazista tentando fazer a mesma coisa. São opiniões de Adolf Hitler, lembradas por Jonah Goldberg no livro “Fascismo de Esquerda”. As teses que tentam associar a defesa de valores da família, da cultura tradicional ou da religião ao fascismo são estúpidas e historicamente mentirosas. Ao contrário: a organização familiar, a religiosidade e a tradição cultural são antídotos ao superpoder do estado ou de um partido. Quem queria entregar crianças para serem criadas e educadas por um organismo estatal eram Robespierre e os nazistas… O que estou querendo dizer com isso? IMPORTAM POUCO O QUE AQUELE VAGABUNDO ESCREVEU EM SEU MANIFESTO OU AS MENSAGENS QUE DEIXOU ESPALHADAS POR AÍ. O mais severo crítico das instituições burguesas e da religião, como vimos, pode não se distinguir de um Hitler. Um tradicionalista, adversário ferrenho do laicismo, pode conviver perfeitamente bem com a diferença. As idéias conservadoras de Breivik não matam ninguém. Já as suas idéias mudancistas são, como resta claro, homicidas.
Direitista, cristão, sionista… As esquerdas mundo afora decidiram usar o assassino norueguês para esconjurar seus inimigos! Neste blog, não se criam!!! | Reinaldo Azevedo - Blog - VEJA.com

Ora! Não são as idéias mudancistas que matam, em oposição às idéias conservadoras. Na verdade, pouco importam o teor das idéias, mas importa sim e muito o como se pretende efetivar tais idéias. Daí que se Breivik manifesta alguma simpatia ao cristianismo e não admira nada do islamismo, isto não seria problema se ele achasse viável um plano político para diminuir a influência da segunda religião em detrimento da primeira.  Mas, como ele claramente descartou a política e passou ao que os anarquistas chamam de "ação direta", no caso a pura violência, aí é que está o problema. 
O que Reinaldo Azevedo tenta claramente fazer é eximi-lo de ter alguma proximidade com o cristianismo. Ora, isto é totalmente irrelevante, quando se sabe que qualquer um tem a interpretação que quiser sobre o que for. Analogamente, se pode argumentar que muitos muçulmanos não têm relação direta com o terrorismo fundamentalista porque o Corão, literalmente, não comporta um programa sistemático de massacre ao Ocidente e seu Estado de Direito. 
Na verdade, o problema, se teórico, está na leitura fundamentalista de todo texto sagrado (ou não sagrado) e a intenção subsequente de impô-la à força. Simples... Exceto para quem tenta "purificar" qualquer seita ou culto de servir como inspiração para aqueles que pouco se importam com o motivo destas, desde que possam utilizá-las como justificativa para matar.
Criticar o equívoco da “mídia de esquerda” ao procurar uma coerência ideológica nas idéias do norueguês com sua atitude bárbara é tão errôneo quanto procurar falsear sua ligação, mesmo que subjetiva, com algum ideal do que seja “a direita”. Para um assassino como ele, na verdade, qualquer idéia serviria para canalização da vontade matar que já trazia consigo. Simples... Exceto para Reinaldo Azevedo e todos os fundamentalistas, de esquerda, direita, religião A, B ou C; exceto para todos que mentem para si mesmos se achando especiais, crentes de um conjunto puro e pretensamente não diluente.

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