quinta-feira, agosto 11, 2011

Quando a moral não importa



Ontem assisti a uma entrevista no programa “Entre Aspas” da GloboNews onde um dos entrevistados era o professor de História Contemporânea da USP, Osvaldo L. A. Coggiola insistir na tese de que a causa dos distúrbios no Reino Unido “são conseqüência do desemprego e do modelo neoliberal adotado nesses países”. Obviamente ele desconsiderou o modelo de welfare state que tem o país que socializou a perda moral. Obviamente que o fez muito bem, sem distinção religiosa, de raça ou sexo. Há meliantes para todos os gostos ali e que, diferentemente, da França com uma cisão mais clara entre migrantes árabes e seus descendentes com o resto do país, no Reino Unido, o sistema de bem estar social conseguiu abarcar diferentes grupos. E isso é o que estranha, que os causadores de tumultos estejam ligados a esse sistema... Ou seja, o que deveria amenizar ou até eliminar essa possibilidade é algo que está relacionado e, possivelmente, seja uma causa a mais.
Mulheres com mais de um filho que reproduziram com doadores de esperma só para receberem ajuda do seguro social, professores que devem temperar suas críticas sociais com ódio e revanchismo, membros de gangues e torcidas organizadas, imbecis sustentados pelo erário público, esta é uma amostra dos baderneiros encontrados pelas ruas britânicas. Parece simplista tributar as causas desses distúrbios urbanos a um elemento apenas, o estado de bem estar social, mas aí é que reside a questão, o estado não é um elemento a mais, ele é sim o resultado de interações que ao constituírem e se relacionarem novamente com o mesmo são retroalimentadas. Como isso se processa em detalhes é que é interessante de se averiguar. Em HACER Latin American News | World: The Sun Never Sets On The British Welfare System – by Ann Coulter, também atribui o pequeno uso de armas de fogo pela polícia como uma das causas. Pode ser, mas enfatizar isto em demasia não faz sentido (...)



(...) Em 92, a armada L.A. ardeu muito mais. Não há uma panacéia para esses distúrbios coletivos. Se “mais armas menos crimes” isto não serve como remédio geral. NYC, p.ex., melhorou com a "tolerância zero", mas segundo os autores de Freaknomics foi mais que isso, a transição demográfica que, graças aos abortos levaram a uma redução de filhos indesejados que hoje estariam na faixa etária de maior propensão à criminalidade. Ou seja, há vários caminhos para se avaliar, n variáveis e, portanto, não há uma relação de única causa e efeito direto.
Nos EUA, cidades como Washington podem ter tido aumento da criminalidade com a política de controle de armas, mas ela já era uma cidade com alto grau de homicídios. Piorando ou não, o problema já existia e não deveria ser pela dificuldade de acesso ao porte de arma. Eliminando, portanto, esta variável, qual é a causa? Isto é o que deve ser indagado. Quanto aos abortos, sou contra, mas não contra a Lei, o que torna minha opinião inócua para alguns. Penso que não, pois aí é como religião, sou contra algumas, mas defendo a existência. Apenas admito que não deve se abortar, salvo sob risco à saúde da mulher. Quanto à relação filho indesejado/criminalidade me parece lógica, mas nem tudo que é lógico é verdadeiro, eu sei. No entanto, se a correlação para NYC parece existir, a causalidade também é discutível. Então, não se trata de abortar visando um controle social e sim que um efeito alegado foi este. Acho sim que isto tenha mais a ver do que a simples posse de armas, que por si só não garante menos violência. No entanto, proibi-las é pior, porque daí só o bandido as porta. O que garante menos violência parece ser uma combinação de fatores difícil de reproduzir em uma sociedade muito dinâmica (com muitos imigrantes) como os EUA. A Suíça tem o 2º maior índice de armas por km2 (só perde para Israel), se meus dados estiverem atualizados. E lá a violência é muito menor pelo que sei do que uma L.A., mas também acredito que seja menor do que Jerusalém. Então se é menos violenta do que onde há menos armas, mas também é menos violenta do que onde há mais armas, não são, portanto, as armas as definidoras da não violência por excelência. Tem algo mais aí e, para mim, tem clara relação com a cultura.
Orson Welles, no filme O Terceiro Homem, diz:
Na Itália, durante 30 anos sob os Borgias, houve guerras, terror, assassinatos, sangue. Eles produziram Michelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença. Na Suíça, tiveram amor fraternal, 500 anos de democracia e paz. E o que produziram? O relógio cuco.
Parodiando Orson Welles se a Itália deu muito mais a humanidade que a Suíça com o Renascimento, a cultura etc. do que o relógio e o fondue, também é verdade que ela deu um Berlusconi e nenhuma monotonia de uma sociedade sã e ordeira. Sinceramente, para morar prefiro Berna e para me soltar num feriado, Roma.
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