Freud foi mais bem acolhido na França do que nos Estados Unidos, e Lacan talvez seja a prova mais convincente disso. Surgiu preconizando o retorno a Freud contra o que ele chamava de human engineering, prática americana decorrente do behaviorismo e inteiramente contrária à manifestação do inconsciente.
Mas o fenômeno Lacan não significa que o pensamento psicanalítico tenha de fato penetrado na França. Pode-se mesmo dizer que o futuro da psicanálise, nesse país, não é menos incerto do que na América do Norte. São as idéias cartesianas que imperam no meio intelectual francês, a crença no “penso, logo existo”, que não favorece uma cura em que o sujeito deve se deixar preceder e surpreender pela palavra e cujo pressuposto é “digo, logo existo”.
Betty Milan, O futuro da psicanálise (1996)
É difícil para alguns compreenderem que mesmo quem diz algo o faz porque pensa. Talvez, para a autora, os vegetais e minerais não se sujeitem a psicanálise justamente porque não dizem nada e não porque não pensam. Este tipo de recurso argumentativo não estabelece uma teoria, apenas “dá um jeito” de argumentar em cima de algo com uma resposta evasiva. Seria difícil admitir que os EUA não têm uma queda psicanalítica por que uma visão psicológica alternativa lhe traz mais segurança ou resolutibilidade? Para conferir a eficácia da psicanálise como método de cura de patologias, o mínimo que se deveria fazer é um apanhado estatístico da permanência ou reincidência de certos transtornos ou, se preferirem, “situações” que a falta de apoio psicanalítico não lograsse sucesso.
Mas, provavelmente, para aqueles que crêem na psicanálise, a própria estatística seria contestável já que tudo que tem a ver com ciência não lhes inspira confiança. Vai saber...
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